…. N U M M I N U T O
Uma colheita relâmpago feita pela nossa incrível equipa de MCs, José e Rafa do Co.Re.
… E M M I L I M A G E N S
Duas entrevistas na Radio Movimento com a equipa organizadora no programa Utopias em Acção conduzido pelo Rogério Roque Amaro: uma antes para apresentar o evento e outra para contar como foi.
…. E M M I L P A L A V R A S
Um artigo publicado no jornal MAPA contámos a quem não pôde estar.
Tecendo redes para a transição: II Confluência pela Agroecologia junta uma centena na Golegã
Texto: Sara Moreira, Rita Queiroga, Inês Costa Pereira, Cristina Amaro da Costa
Fotografias: Fernando Antunes Amaral [oficina de luz]
Cerca de cem pessoas convergiram na II Confluência pela Agroecologia, na Golegã, neste solstício de verão: agricultoras, investigadoras, ativistas, técnicas e consumidoras unidas em torno da transformação do sistema agroalimentar.
«Um espaço de conexão, solidariedade e co-construção para a soberania alimentar, a transição justa, a dignidade de quem produz alimentos e pela saúde dos ecossistemas».
A proposta era «tecer redes para a transição em Portugal». Juntaram-se entidades para organizar o encontro. Integraram-se propostas feitas no encontro anterior e em diversos momentos de escuta prévia. Desenhou-se um programa fértil em visitas de campo, oficinas, mercado, troca de sementes, apresentações de iniciativas, exibição de filmes, conversas, cantigas em roda e sessões de trabalho para cultivar a mudança que se quer fazer acontecer nos territórios. E assim nasceu a segunda edição da Confluência pela Agroecologia, entre os dias 20 e 22 de Junho de 2025 na Golegã.
A terra por quem a trabalha
Sexta-feira. Depois da Oficina de Pastoreio Dirigido terminar, as participantes continuaram por três rotas que passaram por iniciativas inspiradoras em territórios próximos da Golegã. Quem esteve, assistiu à demonstração prática dos conceitos da agricultura de paisagem e de agrofloresta de sucessão, colheu hortícolas para o mercado, fez biofertilizantes ou conheceu a tradição e o saber da moagem, em mós de pedra, e da produção de variedades crioulas como o trigo Barbela.
À noite, no jardim Equuspolis, o documentário “O Rendeiro” (1975), de Luís Gaspar, com um retrato da lei do Arrendamento Rural, deu o mote para a conversa com João Vieira — agricultor, guardião de sementes com amplo conhecimento sobre a terra e a política agrícola, membro da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e, também, anfitrião numa das visitas anteriores. Rapidamente, a conversa se tornou numa profunda lição sobre a globalização do sistema agroalimentar, o desmembramento da produção nacional, a dignidade do campesinato, a soberania alimentar e outras ameaças que pairam no ar após 50 anos da Reforma Agrária. «Hoje há que inventar um novo tipo de MARN» diz João Vieira em referência ao Movimento de Agricultores e Rendeiros do Norte, retratado no documentário. A plateia inspirou-se com a imagem de pequenas vagas que se vão multiplicando até formarem uma grande onda capaz de tudo mudar.
Nutrir a «sociobiodiversidade»
Sábado. O Mercadinho ficou repleto de iguarias de vários pontos do sul e centro do país: abacates, laranjas e alfarroba do Algarve, azeite alentejano, mudas de Palmela, hortícolas, ovos e vinho do Ribatejo, livros e outras publicações alternativas… Enquanto isso, a mesa que antes servia para ultimar a sinalética do evento, transformou-se num banco de sementes colorido e começaram as trocas.
Seguiu-se o Rodízio de Iniciativas, com apresentações curtas de cerca de 30 iniciativas, onde se incluíram quintas de produção, hortas comunitárias, cooperativas integrais, AMAPs, projetos de investigação, ONGs, revistas, editoras e várias prospecções. Cada uma das iniciativas descritas foi integrada numa exposição-estendal, entre o verde e castanho das árvores, que ficou patente ao longo do do encontro e permitiu a visita de outros cidadãos de passagem.
Depois do almoço, as participantes dividiram-se por diferentes temas de trabalho que resultaram de propostas anteriormente assinaladas, e que incluíram preocupações sociais, técnicas, políticas, construção de rede, e intergeracionalidade. A partilha da conversa co-construída por cada grupo serviu como etapa para a construção de novos diálogos que continuariam no dia seguinte.
Enxadas ao alto! Agricultoras/es no centro
Um dos momentos altos da II Confluência foi o Plenário de Agricultores/as. Bem perto de uma monocultura de milho, na clareira de um bosquete de choupos, montou-se o «aquário». A metodologia convidou ao diálogo num círculo interno, cerca de uma dúzia de agricultores/as, que abordaram dilemas e motivações para a criação de rede, necessidade de apoio para o fortalecimento da produção e dos sistemas de comercialização e de consumo agroecológico. Em seu redor, no círculo externo, dezenas de pessoas escutaram e acolheram as preocupações partilhadas. Ouviram-se críticas e sugestões aos processos de investigação académica, apelos à articulação entre agricultores, odes às comunidades que apoiam a agricultura, desabafos e relatos de ligações viscerais à terra… Para celebrar as colheitas do dia, nessa noite, o cante ecoou em roda comunitária.
Tecendo redes…
Domingo. Ao despertar com conversas dois-a-dois em espaço livre para forjar colaborações, seguiu-se o jogo do pac-man: uma dinâmica colectiva para agir-reflectir sobre estratégias de defesa, ataque ou neutralização de ameaças de apropriação, greenwashing ou co-optação da agroecologia. Logo após, voltaram a formar-se grupos para continuar os trabalhos da véspera, com foco em seis temas: rede nacional, rede Ibérica, políticas públicas, redes de distribuição, comunicação e morte.
Daqui resultaram possibilidades concretas de articulação, nomeadamente: criação de dinâmicas de trabalho e encontro para a construção das redes nacional e ibérica, pontes com outros coletivos europeus, sistematização de informação para o estabelecimento de grupos de contactos diversos, convites para visitas interpares, definição de etapas para avaliação de políticas públicas e sua adequação à transição agroecológica…
Todo o evento foi acompanhado pelo olhar atento de organizações do outro lado da Iberia ou sediadas na Europa Central, que vieram conhecer melhor a dinâmica portuguesa.
Em jeito de final performativo, as gentes juntaram-se num teatro vivo da «paisagem agroecológica», habitada e a habitar colectivamente o espaço com o corpo e propósito.
Orgânica da Confluência
Dois anos depois da I Confluência pela Agroecologia, que aconteceu em Torres Vedras, em 2023, esta segunda edição foi co-organizada pela Al-Bio Associação Agroecológica do Algarve, Associação para a Manutenção da Agricultura de Proximidade (AMAP), Centro de Competências para a Agricultura Familiar e Agroecologia (CeCAFA), Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viseu (ESAV | IPV) e GAIA – Grupo de Ação e Intervenção Ambiental, e foi acolhida pelo Município da Golegã. Todo o processo foi co-construído num diálogo interativo entre a equipa organizadora e os diferentes tipos de atores que responderam aos chamamentos à participação. A facilitação no evento ficou a cargo do Centro Co.Re, que manteve em altas a energia e o foco do grupo. Várias pessoas/iniciativas presentes demonstraram interesse em dar seguimento à organização da rede e confluências futuras. Mas, por enquanto, ainda se lavam os cestos: à data de fecho desta edição, a vindima da Confluência ainda está por acabar. Os detalhes de todo o evento e dos seus resultados são publicados em https://agroecologia.coletivos.org.